Vai demorar pra você me perdoar. Se te conheço bem, você já planejou esse dia. Será na cabeceira do meu túmulo. Você não vai perder a oportunidade de me enterrar mais fundo no cemitério com suas palavras. Depois de dizer o que bem entender, aposto que vai cuspir na foto da minha lápide. Já te … Continue lendo Alô?!
Esperas
Ela entrou na emergência do hospital, tropeçou no meu pé, seguiu até o balcão sem parar de falar ao celular. A recepcionista informou que seu pai foi levado para a cirurgia. Colocou o celular no ouvido outra vez, disse que esperaria ali e desligou. Eu estava ali porque minha mãe também estava na sala de … Continue lendo Esperas
Meias palavras
— Oi. — Oi. — Tudo bem? — Tudo bem. — Eu sou do tempo em que era feita à mão. — Eu fui feita nas fábricas da China. — E quando você descobriu sua existência? — Ah, eu fui crescendo, crescendo e vi que no início eu era apenas um novelo de linhas dentro de um cesto. — Eu não tive essa sorte. … Continue lendo Meias palavras
Devia ser
Eu sei que você não gosta de ler o que escrevo. Você prefere ler o que recomendam ou qualquer coisa que te faça rir. Eu só escrevo na hora do almoço, quando largo as ferramentas aqui na fábrica. Os outros operários almoçam e conversam. Eu escrevo enquanto almoço. A fábrica passou a demitir muita gente. … Continue lendo Devia ser
Sonho de criança
Contar histórias é uma maneira de manter as pessoas unidas. A televisão contou a história do homem pousando na lua. Eu vi na TV, em preto-e-branco. Meu vizinho Nestor deve ter visto. Depois daquilo, todos os meninos da minha idade, naquela época, sonharam em pisar na lua. Mas morar em Realengo, no Rio do Janeiro, … Continue lendo Sonho de criança
O escravo
- E aquele lá, como veio parar aqui? - Aquele ninguém sabe. Dizem que chegou antes de todo mundo aqui. - O que é aquilo nas costas dele? - Dizem que chegou com aquelas marcas em carne viva. - Nunca vi nada assim. - São chicotadas. Ou melhor, foram chicotadas… eram chicotadas… hoje em dia … Continue lendo O escravo
Vestígios
26 de janeiro de 2019, 10:58 Fechou os olhos como quem fecha janelas para se esconder do mundo. Dentro da escuridão de seus pensamentos brilhava um sorriso. Colecionava sorrisos desde os onze anos de idade. Tinha um conjunto de cadernos dispostos numa prateleira e organizados por ano. O primeiro deles tinha na capa o ano … Continue lendo Vestígios
Eu não queria morrer espancada, papai
Em “Eu não queria morrer espancada, papai" a presença de violência em textos literários está interligada com princípios éticos para criticar a violência, em favor de uma sociedade mais pacífica. É angustiante imaginar tais cenas e nos sentirmos impotentes quanto ao fato. Este conto reproduz uma realidade ainda recorrente, infelizmente. Quem acoberta um crime também suja as mãos com o sangue das vítimas.